Nombre: Jaime Vieira
Lugar de nacimiento: Marília, Estado de São Paulo, Brasil
Residencia actual: Maringá PR, Estado de Paraná, Brasil
Miembro desde: 05/03/2020


Poemas incluidos en esta página:
 
                   - O Pai.
          - Sonhos para John Lennon.
               - Olhar menino.
               - Cais I, II.
      - Nossos sonhos.
- Amanhecer I, II, III, IV.
- Saudade.
- Chave maior.
- Maringá, Maringá.
- E agora, Drummond?
- Lágrimas de Palhaço.
- John Lennon.
- Renascer.
- Amor antigo.
- Faça de conta.

- Sonhos íntimos.
- Eu (Acróstico).
- Adeus.
- .
- .
- .



 
 
O PAI
 
 
Pai saiu cedo
dentro do paletó
azul ensebado.
Levou nos bolsos
um anúncio de jornal.
No negro dos olhos
tristes e fundos,
uma esperança qualquer.
No rosto chupado,
a ironia da miséria.
No coração gigante,
a falta enorme da mãe.
 
Mãe era bonita demais!
Reclamava muito.
Não podia ficar.
De mala na mão,
saiu um dia
para nunca mais voltar!
Deve estar em algum lugar,
com outro sobrenome.
Não me importo:
mãe era bonita demais,
não nasceu para nós.
Pai chorou comigo,
só restou um vestido,
pendurado no varal...
 
Farinha de mandioca,
carne seca de boi,
pai engoliu seco,
na mesa, sozinho.
Pai saiu cedo
(carne seca no paletó).
Encostou a porta devagarinho,
abafando a tosse seca
com as carnes das mãos.
Pai, tão magro, tremia
dentro do azul do paletó.
 
Pai saiu cedo,
chegou com a noite fria
(carne seca no olhar).
Pai deitou-se ao meu lado,
envolveu-me nos braços
(carne seca suada).
Pai não tossiu mais.
 
Chorei baixinho
(lágrimas com suor de pai).
Pai escutou calado.
Pai dormiu com a noite,
e não acordou nunca mais!
 
 
 
 
SONHOS PARA JOHN LENNON
 
 
Ei, meu amigo John,
por aqui nada mudou!
Os limites dos sonhos
ainda não são diferentes
daquilo que você imaginou,
apenas muitos computadores
e poucas emoções,
muitos mísseis,
muita tensão,
muito vidro,
muito aço,
pouco tempo,
pouco espaço,
e uma saudade sua
e dos seus versos
numa nova canção.
 
Ser artista e gente como você
é diferente do que posso imaginar,
diferente de tudo, diferente do diferente,
“aqui, ali, em qualquer lugar”.
Nem você, nem Beethoven,
nem Schubert, nem Bach
comporia uma sinfonia
para que pudesse o povo um dia
acreditar, sonhar e imaginar.
 
“O sonho não acabou”.
“Nada vai mudar nosso mundo”.
“I don’t expect you understand”.
Eu não espero que você entenda,
apenas compreenda,
que o sonho acabou... para você, John,
para nós, ainda não.
Passaram-se os anos,
cinco tiros não calam uma geração.
Estouram-se os miolos do cantor,
mas não apagam o seu canto.
E na porta do Dakota
um idiota
calou o mundo
por alguns segundos,
calou um pássaro,
mas não seu canto,
que por encanto,
acordou nos muros
de alguma cidade
do interior
do coração
de algum país.
 
“Somos todos água,
mas de rios diferentes.
Um dia nos encontraremos
no mar e evaporamos juntos”.
 
“Imagine all the people
living life in peace”...
“Imagine todas as pessoas
vivendo a vida em paz”…
 
 
 
 
OLHAR MENINO
 
 
E o menino
olha o tempo,
e num instante
rabisca no caderno
do seu destino,
em tinta vermelha
o que o tempo lhe ensinou.
 
Fugir já não pode,
apenas tenta,
com ternura, entender
os astros.
Vê a lua mais perto,
conta as estrelas
as mais distantes
e de azul vai tingindo
o que não for azul
mas que possa se chamar
de seu mundo.
 
E o menino
por alguns instantes
dobra estradas
as mais compridas,
entorta conceitos,
atira pedra nos monumentos
tentando estancar
a correria do tempo.
 
Gritar já não é preciso,
apenas estala os olhos
num gesto distante
do que seja susto,
e fica triste
quando de repente
se vê gigante,
se vê adulto,
já com vontade de ser
o menino que era antes!
 
 
 
 
CAIS
 
 
I
 
Meus sonhos
adormecidos
levantaram
âncoras.
 
Veio a noite
veio o dia
e se atracaram
nos meus cais.
 
Fiquei no porto
apregoando versos
de um poema torto
ancorado em mim.
 
 
 
 
 
II
 
Gaivotas já não
acordam a paisagem.
A tarde ancora-se no porto.
Fecham-se os olhos do dia,
anoitece.
Chega a noite
em negrito,
debulha estrelas
no infinito
enquanto no porto,
ancorada em mim,
a paisagem agora
dorme.
 
 
 
 
NOSSOS SONHOS
 
 
Já sei conjugar o verbo amar.
Agora entendo o silêncio das nuvens,
no azul do céu, inventando imagens
que somente em sonho eu vi
 
É nesse céu azul,
entre os satélites
e as máquinas dos homens,
entre as cápsulas dos russos
e a dos norte-americanos,
é lá que escolheremos uma
nuvem qualquer,
distante de nós,
distante no infinito,
para assim pendurarmos
os nossos sonhos.
 
 
 
 
AMANHECER
 
 
I
 
O sol amarrado
no porão da noite
escapa.
Afugenta a lua
espanta as estrelas.
Decidido vai para a rua
e anuncia
um novo dia!
 
 
II
 
A madrugada vem a galope
no alazão da noite.
No céu, entre as nuvens,
o rasto que fica,
são estrelas.
 
 
III
 
O sol sonolento
lentamente desperta
e com agulhas certas
tece o amanhecer.
 
 
IV
 
O amanhecer é
um pássaro ligeiro,
leva nas asas
a escuridão da noite.
 
 
 
 
SAUDADE
 
 
Quando, sem ninho
nem leito,
surpreendo-me assim,
vagando em meditações,
meus sonhos desfeitos
tomam forma de um sentimento
estranho que me invade,
o qual eu já conheço
e assim o defino, mais uma vez:
é a saudade invadindo-me o peito.
 
E esta saudade chega,
olha-me no fundo dos olhos,
e, sem jeito, vai entrando,
e, sem querer ou querendo,
vai se escondendo
no mais dentro de mim.
 
Arranha-me o mais que pode,
lanha-me o quanto é de direito,
até explodir em paralelas
de lágrimas compridas, frias
que molham e machucam,
como espinhos frios, decisivos,
fincando-me o peito.
 
E tudo só volta à calma
quando apago o teu jeito,
esqueço o teu cheiro,
viro-me para o canto,
e adormeço.
 
 
 
 
CHAVE MAIOR
 
 
Os rios entendem
o silêncio dos peixes,
assim como as cachoeiras
entendem o barulho
e a turbulência das águas.
 
O outono entende os frutos,
e a primavera, a perda
das suas flores,
assim como o amarelo
se aceita, como tempo vencido
e se vê feliz no primeiro verde
que do chão surge.
 
O céu compreende as estrelas
no mais distante em que se achem
e assim as pendura no mais azul,
com todo cuidado.
 
As pedras apertam os rios,
os maiores e os menores,
sem distinção,
que correm e escorrem,
se torcem e retorcem,
mas não os impedem
da sua louca busca de descanso,
na plenitude do grande mar.
 
As flores
entendem as borboletas
e não as ignoram
quando, no mais longe,
satisfeitas vão embora,
em bandos ou em duplas,
duas a duas, refletidas,
no espelho do ar.
 
As rosas aceitam os espinhos,
simplesmente para que possam
se abrir displicentemente seguras,
e assim se protegerem e beberem
do orvalho que corre entre eles,
para se tornarem incomparáveis,
em qualquer jardim,
em qualquer lugar.
 
Os pássaros
entendem as alturas,
compreendem os bandos
e o porquê dos ninhos.
Aceitam o vento e a chuva
e o inverno também. Só não entendem a força
dos chumbos
que lhes rasgam o peito.
 
Só os homens não se entendem
nem se aceitam
nem se compreendem.
Sabem fazer sua solidão,
sabem criar seu silêncio
ou apenas se armam,
se desamam, se dilaceram.
E por pouca coisa
inventam uma guerra,
botando por terra
uma coisa chamada amor,
trancando portas,
camuflando-se,
jogando fora as chaves
de um mundo melhor!
 
 
 
 
MARINGÁ, MARINGÁ
 
 
Por entre as árvores
vestidas de verde,
e de flores, o ano todo,
de janeiro a janeiro,
uma emoção caminha,
pega-me por inteiro
e eu começo a imaginar.
 
A cabocla do Ingá
cresceu tanto e tanto
que para o meu espanto
agora sim, começou
“a dar o que falar”.
 
Maringá, Maringá,
já não te vejo
vestida de chita,
vejo-te cada vez
mais bonita
de cabeça erguida,
vestida de tafetá,
convidando-me sorridente
a me rever feliz diariamente
e por aqui, sempre ficar.
 
Sob à sombra
dos teus espigões
que me assombram,
arquiteto esperanças,
meço o tempo e te vejo
ainda tão criança,
carregando nos ombros,
do nosso tempo
o peso imenso
do amanhã.
 
E com orgulho
sinto o vento do futuro
derrubando o velho muro
e com pressa,
abrindo às pressas,
as portas do progresso
para você passar.
 
Maringá, Maringá,
uma ilusão errante
faz-me sentir gigante
orgulhoso e feliz, assim.
É que no meio de tudo
nas sacolas do teu agora
tu carregas, sobretudo
também um pouco de mim.
 
Enquanto isso,
as minhas ilusões,
sem compromisso,
procuram rimas
para te saudar.
 
Maringá, Maringá,
já não é preciso
e nem consigo imaginar,
apenas sei que já aprendi
que longe de ti
já não posso mais ficar!
 
 
 
 
E AGORA, DRUMMOND?
 
 
Cala contigo a terra
apenas aquela
que te enche a boca
de silêncio eterno.
 
Despeja numa nuvem calma
a leveza da tua alma
e o brilho da tua rima clara
na primeira estrela torta
que te convier.
 
Descansa tua retina fatigada
na rede da tua poesia agora calada
esticada, lá em cima
em algum lugar.
 
Lá nas alturas,
aceita, Carlos, teu Deus canhoto
explicando com a mão direita
as coisas deste mundo torto
e das suas criaturas.
 
Cala contigo, meu amigo
a tua vontade pouca
de aceitar esta vida besta e louca
que não conseguiste mudar.
 
Sossega enfim teu verso inquieto
que inundou a todo instante
teu coração gigante
querendo a vida inteira
as dores do mundo carregar.
 
Segue teu rumo tranquilo
pois neste vasto mundo
cheio de “Josés” e “Raimundos”
nas pedras dos caminhos
contigo aprendemos a tropeçar.
 
Esquece as pedras do caminho
pisa agora teus olhos sozinhos
 na trilha dos teus versos sem espinhos
para um eterno e novo despertar!
 
 
 
 
LÁGRIMAS DE PALHAÇO
 
 
E sem querer,
um palhaço,
de um circo qualquer
se sente desgarrado
de qualquer picadeiro.
 
E por não ser o primeiro, ri
quando as lágrimas ameaçam
e amordaçam um coração
que começa a chorar.
 
E assim, quando as lágrimas
derretem a maquiagem
vermelha, azul e roxo
como crisântemos decorados,
vencidos pelo tempo,
o palhaço por certo
reconhece o tempo cumprido.
 
E, sem sentido, sente
a maquiagem do tempo
correr pela testa,
em festa, como cúmplice
ou curativo que já não
consegue a dor estancar.
 
Mas sabe que, para
aquele que cria o riso,
o mais difícil é se ver chorar.
 
 
 
 
JOHN LENNON
 
 
O vento cortava a alma
naquela noite de dezembro.
 
John partiu levado em sonho,
num riso de criança que chega
e parte na garupa do vento, e se
vai ao lado de um raio de sol poente,
prometendo um raio de luz feliz.
 
Partiu, foi esconder-se
atrás de uma nuvem escura,
numa estrela final inacabada,
para dormir com a noite, e se
preciso fosse, num último brilho,
chorar nos ombros do tempo,
em forma de orvalho entre espinhos.
 
Partiu para acordar nos muros,
numa frase viva
como arma quente,
até que o tempo
atire flores no que for violência,
e todos se lembrem sempre
de que o “amor é uma flor
 e se tem que deixa-la crescer”.
 
No escuro, aquele susto
no meio da noite em disparada
que disparou no vento cinco disparos.
Feriram o mundo
como se fossem frias pedradas,
as mais frias, (violência humana)
no mais profundo
tocando os homens,
calando um pássaro,
calando a música,
calando o mundo!
 
O vento cortava a alma
naquela noite de dezembro...
 
 
 
 
RENASCER
 
 
Senhor,
é preciso deixar as asas livres
para se conhecer o céu.
Perceber a leveza do corpo solto
no azul do espaço e sentir
a distância fria entre trapézios,
para se dar valor
às redes de segurança,
que nem sempre nos esperam
lá em baixo.
 
Senhor,
é preciso botar o pé na estrada,
deixar os braços livres,
guardar as asas,
embora os sonhos continuem;
deixar as mãos livres
para um gesto de carinho,
ou contritas numa oração
em agradecimento.
 
Senhor,
é preciso ser livre
para se conhecer o viver.
 
Senhor,
é preciso ser forte
para entender o sofrer.
 
Senhor,
é preciso aprender a perdoar,
para assim aprender a amar.
 
Senhor,
é preciso morrer
para se renascer
e contigo se encontrar.
 
 
 
 
AMOR ANTIGO
 
 
Quando tu chegas e te deitas,
e sem querer me feres
com restos do que te resta,
tudo parece ter mudanças.
 
Quando tua sombra me assombra,
teu pranto me espanta,
os meus sentimentos
se descarrilham.
 
Quando tuas garras me agarram
e teus braços me abraçam,
tudo me desparafusa, e
confusamente me surpreende.
 
E, surpreso, não sou surpreendido:
sou preso às tuas surpresas
e me debato nas tuas presas,
e me agarro nas tuas garras,
e me solto em teus braços.
 
Então ris do meu abrigo
e com palavras sem sentido
pisas no meu orgulho ferido.
 
E, quando tudo parece perdido
e te abala a confiança,
voltas a te sentir criança
e murmuras no meu ouvido
teus apelos e motivos
(coisas de romance antigo)
 ─Não fujas, não! Fica comigo!
 
Quando me surpreendes assim,
de manhã num instante,
saindo cedo, levando contigo
meu calor e meus motivos,
sinto-me perdido,
sobretudo menor ainda
quando me firo,
e no teu ouvido te digo:
─Não! Não vás, fica comigo!
 
 
 
 
FAÇA DE CONTA
 
 
Faça de conta
que eu não faço conta
do seu silêncio
esparramado ao meu lado,
e que de mim
às vezes toma conta.
 
Faça de conta
que eu não sou nada para você
e que a vida, assim tem que ser.
 
Faça a conta
deste faz-de-conta,
que, se não foi o tudo,
nos deixou a madrugada
que preencheu o meu nada
 
pensando em você.
 
Faça de conta
que nada somos
e preserve o silêncio.
Não diga nada,
apenas enxugue calada
estas últimas lágrimas
que ainda rolam por você.
 
Faça de conta
que já não sou nada
para você.
Apenas faça de conta.
É assim que tem que ser.
 
 
 
 
SONHOS ÍNTIMOS
 
 
Como é bom
chegar em casa
e acordar
sonhos que dormem,
à espera de que a gente
chegue de surpresa
e durma com eles,
virando-os pelo avesso,
desmanchando pesadelos,
criando calmarias.
 
Como é bom
estar apenas sonhando,
embora se saiba
que ainda se está acordado.
E, se preciso for,
em pé de guerra,
em estado de alerta
(como em pesadelos),
até que o cansaço
traga nos braços um sono
que vem, se ajeita
e se deita com a gente,
aquecendo-nos do frio
desta longa madrugada.
 
Como é bom voltar para casa
e dormir com os sonhos
que nos restam!
 
 
 
 
EU (ACRÓSTICO)
 
 
Jamais pensei ser o que sou.
Apenas sei o que deveria ser,
Inda que não seja tudo o que sou,
Mergulho no que poderia ser,
Esperando ser o que nunca fui.
 
 
 
 
ADEUS
 
 
Quando eu morrer,
não se preocupe,
estarei entre os cisnes
em algum lago azul
ou no mais azul do firmamento,
como um ermitão,
no mais sozinho,
no mais distante:
distante daqueles
que me amaram
e mais longe ainda
dos que já me
esqueceram.
 
 
 

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